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quinta-feira, janeiro 06, 2005

Entrevista Isabel Callage (Bebel)

Esta entrevista foi realizada especificamente para o meu projeto de graduação em design gráfico, em uma tarde de fevereiro de 2003 na editoria de arte do jornal Zero Hora. A ilustradora Isabel Callage, a Bebel como é conhecida, é formada em Publicidade e Propaganda pela PUC/RS, trabalha para o jornal Zero Hora, tendo sido premiada no Salão Internacional de Desenho para a Imprensa de Porto Alegre com uma ilustração para a capa do atual caderno Donna ZH.

Como você começou a sua carreira?
Bebel - Sou formada em Publicidade e Propaganda pela PUC e trabalhei em agência, há dezenove anos comecei no jornal. Eu queria artes plásticas, como eu não passei no exame, fui para a propaganda. Eu queria direção de arte e tinha que saber desenhar naquela época, hoje em dia não, com o computador tu não precisa saber desenhar tu faz qualquer coisa. Mas a publicidade não era o meu lugar e vim para o jornal.

Iniciasse no jornal como ilustradora?
Bebel - Porque eu conhecia o Marco Aurélio, e eu comecei na seção de atendimento ao leitor na página dois, foi ali que eu comecei, eu só fazia aquele desenho. O leitor mandava a carta e eu fazia o desenho sobre a carta. E depois eu comecei a fazer desenho de política, economia e fui até o caderno Donna, quando começou a entrar cor no jornal, antes eu não desenhava com cor.

Alguma experiência além da ZH?
Bebel - Ilustração de livro infantil, cinco ou seis livros para criança. Na época que era publicitária eu fiz um desenho para a Tumelero na televisão. Um site para a Enxuta, eram várias peças de uma casa com colagem, eu desenhava uma cozinha e a pessoa clicava na panela e vinha uma coisa, na máquina de lavar... (atualmente a Bebel está fazendo ilustrações para as lojas Renner).

Já trabalhou com design gráfico? Você já fez algum cartaz, logotipo, embalagem?
Bebel - Para a agência de propaganda eu fiz coisas, cartazetes, móbiles, mais a arte do que a concepção toda, eu fazia o desenho.

O teu trabalho tem alguma influência do Art Nouveau?

Bebel - Tudo que eu acho bonito eu vou incorporando, são afinidades com as coisas, o método para trabalhar é confuso, é muita coisa que acontece ao mesmo tempo, porque tudo para mim é informação, na rua, no cinema, livro, pessoas que eu olho... Eu quando viajo eu tenho bloquinhos de desenho na bolsa, eu vejo alguma coisa e vou guardando, fora material de ilustradores e cartunistas que eu gosto e que eu compro.

É perceptível no teu trabalho estas influências?
Bebel - Acaba influenciando porque quando tu gostas de alguma coisa... Eu não copio, eu tenho o meu estilo... Eu vou te dizer os nomes dos cartunistas que eu admiro. Tem o Sempé um francês que publicava na Caras, é um amor, de uma delicadeza. Tem o Quino, que é bárbaro mas é muito cáustico. Tem o Hirschfeld (falecido em 2003) que é um americano, o trabalho dele é lindíssimo, ele desenhava as pessoas do teatro e cada peça que estreava ele assistia e desenhava junto com a crítica, e como no jornal ele recebia por coluna ele colocava... Por exemplo, botava um braço espichado e aí eram várias colunas.

Quais técnicas que você usa?
Bebel - Aquarela, colagem. Aquarela para a Martha e colagem para o Scliar. Gastronomia mistura um pouco... uso nanquim, canetinha de pena, de arquitetura 0.1, papel fabriano, estilete porque trabalho com papel maché. Quando eu venho para o jornal eu tiro coisas de revistas que eu acho legal e pode servir para alguma coisa. Eu não trabalho com computador, quase nada, só quando trabalho em casa escaneio lá e mando para o jornal. Me dá uma aflição esse troço de não conseguir chegar no desenho. Eu gosto de recortar, de olhar revista, de pincel.

Isso traz uma diferença para quem está observando a tua ilustração?
Bebel - Depende do tipo de trabalho, porque tem uns livros de desenho de moda que são bárbaros e são por computador, as cores, as retículas, mas para aquele tipo de traço. O meu traço no computador de repente mais para colocar uma mancha, uma retícula, mas preservar o traço assim, porque no computador não sai assim.

Você nunca tentou trabalhar com computador?
Bebel - Tentei, mas aquele troço de ficar com o mouse aqui e o desenho aqui, é muito complicado para mim, eu gosto de ter o controle.

Qual o público que a tua ilustração atinge?
Bebel - Eu acho que mais senhoras. Tem até uma senhora que mandou um e-mail para o jornal perguntando se tinha algum problema de copiar o meu boneco porque ela pinta em panos de prato. Depois teve uma história de uma outra que usava... porque eu faço muita retícula, estampa, que ela usava aqueles desenhos que eu fazia para bordar em vestidos assim com pedrarias. Eu acho que as senhoras, as gordinhas... eu gosto muito de desenhar gordinhas.

Na coluna da Martha você desenhava ela?
Bebel - Às vezes eu faço ela, quando não tem saída, que ela está falando, ela, ela, ela...

Como é o processo criativo?
Bebel - Eu leio, vou na internet, este formato é o que o diagramador me dá (mostra o layout da revista), mas se eu penso que fica melhor na vertical eu mudo, mas dentro deste espaço aqui, dentro desta área. Eu procuro fazer coisas... Eu penso no conjunto do texto, do título, tudo, não é só ilustração, às vezes fica uma coisa mais integrada que aí eu deixo com a diagramadora e a gente monta.

O tamanho das ilustrações varia?
Bebel - Eu faço maior porque quando reduz fica melhor, fica mais bonita a qualidade.

Você acha que a tua ilustração está mais ligada a Revista ZH Donna?
Bebel - Um monte de gente acha que eu faço a Martha, pouca gente sabe que eu faço o Scliar. Me identificam mais com a Martha. Lêem muito a Martha porque o texto dela tem muito a ver com a mulher.

Se algum outro ilustrador fosse fazer a coluna da Martha, as pessoas continuariam lendo? Ia perder a identidade?
Bebel - Eu não sei. Não posso te dizer, no jornal a gente está tão ligada. Enquanto está a Cláudia (substituta da Martha nas férias) um editor me pediu para eu fazer um traço um pouco diferente. Para a Martha é uma coisa mais elaborada, para o Vida e Gastronomia é mais humor, quando dá eu faço uma coisa mais de brincadeira.
Eu queria trabalhar com diagramação porque eu acho que tem a ver o desenho com a diagramação, às vezes eu vejo, podia estar em outro lugar, ficaria melhor em outro lugar. Quanta coisa tem aqui (layout da revista) tem o título, tem o olho aqui, tem um anúncio, tem que ter cuidado porque senão a página fica muito pesada, já tem a cor do anúncio, a letra capitular... Às vezes se podia resolver de uma maneira diferente mas pelo tempo..., mas a gente aprende a criar dentro disso.
Às vezes eu faço capa dos cadernos, do Vida, da Revista ZH Donna. Quando tem um assunto chato, uma coisa delicada que fica difícil, não tem foto para ilustrar ou o assunto é muito pesado.

3 comentários:

pablodelarocha disse...

podicre cara...
o trampo delka eh muuuito bacana... eu sempre folhio o Donna pra ver o q ela fez...

Blog Pai Mala disse...

Olá!
Muito boa a entrevista! Gostaria de saber se vc tem algum contato da Bebel. Gostaria de saber como adquirir uma obra dela. Muito obrigado,
Alberto

Leonardo Furtado disse...

Alberto,
Obrigado pelo comentário!
Só tenho e-mail dela, envia um e-mail para leojfurtado@gmail.com que eu encaminho para ela o teu pedido!